terça-feira, 11 de setembro de 2012

E as armas nucleares de Israel?


Artigo de Patrick B. Pexton, de Washington (EUA)

Com algumas variações, os leitores perguntam periodicamente a mesma questão: “Por que a imprensa acompanha qualquer nota ou título sobre o programa nuclear do Irã, mas nunca vemos matérias sobre o potencial das armas nucleares de Israel?”. É uma pergunta razoável, comenta o ombudsman do Washington Post, Patrick B. Pexton (2/9/12). Pesquisando 10 anos de jornal, ele não encontrou no Post qualquer reportagem que analisasse em profundidade a capacidade nuclear de Israel.


Pexton conversou com vários especialistas nos campos nuclear e de não-proliferação, e eles dizem que a ausência de reportagens sobre as armas nucleares de Israel é real – e frustrante. Há alguns motivos óbvios para isso, e outros não tão óbvios. Em primeiro lugar, Israel recusa-se a admitir publicamente que tenha armas nucleares. Oficialmente, o governo dos Estados Unidos também não reconhece a existência desse programa.

A posição oficial de Israel, repetida por Aaron Sagui, porta-voz da embaixada israelense em Washington, é de que “Israel não será o primeiro país a introduzir armas nucleares no Oriente Médio. Israel apoia um Oriente Médio livre de qualquer tipo de armamento de destruição em massa depois que a paz seja alcançada”. O uso do verbo “introduzir” é deliberadamente vago, mas os especialistas dizem que significa que Israel não irá fazer um teste nuclear nem irá declarar publicamente que tem tal armamento.

Segundo Avner Cohen, professor no Instituto de Estudos Internacionais em Monterrey, na Califórnia – e que escreveu dois livros sobre este assunto – essa questão nasceu em Israel, em meados da década de 60, por ocasião de um acordo entre a primeira-ministra Golda Meir e o presidente Richard Nixon, alcançado em 1969, quando os EUA passaram a ter certeza de que Israel possuía bombas nucleares.

O último vazamento

O presidente John Kennedy tentou, energicamente, impedir que Israel obtivesse a bomba; em menor escala, o presidente Lyndon Johnson fez o mesmo. Mas como se tratava de um acordo, nem Nixon nem os presidentes que o sucederam pressionaram Israel para divulgar oficialmente seu potencial nuclear ou assinar o Tratado de Não-Proliferação. Israel, por seu lado, concorda em manter suas armas nucleares não divulgadas e discretas.

Por não ter assinado o tratado, Israel não tem a obrigação legal de submeter sua principal usina nuclear, em Dimona, à inspeção da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, na sigla em inglês). O Irã, por seu lado, assinou o tratado e concorda com inspeções periódicas. Os inspetores da IAEA vão periodicamente ao Irã, mas o centro da atual disputa é que Teerã não permite acesso irrestrito às suas instalações nucleares. Além disso, embora Israel tenha uma imprensa agressiva, tem também censores militares que impedem a publicação de informações sobre as forças nucleares do país. A censura também se aplica a correspondentes estrangeiros.

Um outro problema, segundo Cohen, é que relativamente poucas pessoas têm um conhecimento abrangente do programa israelense e não há vazamentos. Os que participam do programa, obviamente nada divulgam; é considerado crime. Da última vez que ocorreu um vazamento, em 1986, o técnico nuclear Mordechai Vanunu foi sequestrado por agentes israelenses na Itália, levado de volta a Israel para julgamento e condenado a 18 anos de prisão, grande parte deles em solitária.

Alternativa dissuasiva

E, talvez o mais importante, os americanos também não deixam vazar informações sobre o programa nuclear israelense. Cohen diz que informações sobre o potencial nuclear de Israel são das mais sigilosas que o governo americano dispõe – muito mais sigilosas que as informações sobre o Irã, por exemplo. Pesquisadores americanos foram repreendidos por suas agências por falarem abertamente sobre o assunto.

George Perkovich, diretor do programa de políticas nucleares da Fundação Carnegie para a Paz Internacional, disse que há razões benignas, e não tão benignas, para as autoridades americanas serem tão fechadas. Os EUA e Israel são aliados e amigos. “Você entrega seus amigos?”, perguntou Perkovich. E não ser aberto sobre o armamento nuclear de Israel serve aos interesses de ambos os países, acrescentou.

Entre as razões menos benignas para que as fontes americanas não vazem informações está o fato de que podem afetar suas carreiras. “É como todas as coisas que digam respeito a Israel e os EUA. Se você quer seguir em frente, não fala; não criticando Israel, você protege Israel. Ninguém fala sobre os assentamentos ilegais na Margem Ocidental, mas todo mundo sabe que estão ali”, diz George Perkovich.

 
Tradução de Jô Amado



Fonte: Observatório da Imprensa


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Relembrando notícia de 2010



THE GUARDIAN REVELA QUE ISRAEL TEM ARMAS NUCLEARES - Ernesto Carmona



Enquanto a atenção está centrada na África do Sul, devido ao Mundial de Futebol, o diário britânico The Guardain, revelou, domingo, 23 de maio de 2010, como Israel ofereceu a venda de oito ogivas nucleares - em 1975 - ao regime do apartheid. O periódico tornou público um documento secreto sul-africano que tem a assinatura do então Ministro da Defesa israelense, Shimon Peres - hoje presidente do estado judeu - e de PW Botha, naquela época o seu par sul-africano, que deixaram um registro ultra-secreto de um encontro em Zurique (Suíça). A revelação foi feita por Chris Mcgreal, sob o título: "Exclusivo: papéis secretos da era apartheid revelam primeiras provas oficiais de armas nucleares israelenses".



Os documentos secretos que contem uma proposta de venda de ogivas nucleares israelenses ao estado do apartheid constituem a primeira prova oficial do estado judeu a respeito, explicou o diário britânico. Segundo a minuta de uma reunião "secretíssima" entre ambos os ministros da defesa, em 4 de junho de 1975, o sul-africano PW Botha pediu as ogivas a Shimon Peres, que ofereceu, em código, "três grandes". Os dois ministros firmaram um convênio militar em grande escala entre ambos os países, com uma cláusula que declarou secreta "a própria existência do acordo", assinalou McGreal.



Os documentos foram revelados pelo acadêmico estadunidense Sasha Polakow-Suransky, durante a pesquisa para o seu livro sobre a estreita relação entre o estado de Israel e a África do Sul racista do apartheid: "The Unspoken Alliance: Israel's secret alliance with apartheid South Africa" (Aliança desconhecida: o pacto secreto entre Israel e o apartheid da África do Sul), publicado nos Estados Unidos na semana passada. Os papéis secretos revelam que Israel possui armas nucleares, apesar de sua política de "ambigüidade", que não confirma nem nega a sua existência.
Israel tratou de impedir que o governo pós-apartheid da África do Sul revelasse os documentos, quando ficou sabendo da petição de Sasha Polakow-Suransky, cujas revelações resultam particularmente vergonhosas em meio às negociações sobre não proliferação nuclear, centralizadas no Oriente Médio e efetuadas na semana passada, em Nova Iorque. Também ficaram desacreditadas as afirmações de Israel de que não empregariam mal armas nucleares, caso as tivessem, enquanto promove a desconfiança sobre países como o Irã.


Um porta-voz de Peres, citado por The Guardian, disse que a informação é infundada e que nunca houve "negociação alguma" entre os dois países. Mas não fez nenhum comentário sobre a autenticidade dos documentos, que mostram o interesse dos militares sul-africanos da era apartheid por mísseis para eventual utilização contra os estados vizinhos, revelou o diário britânico.
Em 1975, o território da Namíbia lutava por consolidar a sua independência da África do Sul; em Angola começava a guerra civil promovida pelos Estados Unidos contra o governo progressista de Agostinho Neto, uma contenda que a África do Sul internacionalizou, mas que mais tarde foi humilhada pela tropas angolanas, reforçadas por tropas cubanas, que terminaram derrotando aos militares sul-africanos. Na vizinha Rodésia (hoje Zimbábwe) a população negra também lutava contra outro regime racista branco, e, além disso, acabavam de obter a sua independência de Portugal outras nações vizinhas, como Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo Verde. Fidel Castro relatou que a África do Sul chegou a possuir cinco armas nucleares, proporcionadas por Israel, que quase utilizou quando as tropas angolanas e cubanas colocaram em xeque as suas forças militares.

JERICÓ, ARSENAL MILITAR ISRAELENSE

Os israelenses ofereceram formalmente a venda para a África do Sul alguns dos mísseis nucleares de seu arsenal de Jericó, em uma reunião acontecida em 31 de março de 1975. Entre os participantes daquele tratado esteve o chefe militar sul-africano, tenente-general RF Armstrong, que de imediato elaborou um memorando, destacando as vantagens para a África do Sul se obtivesse os mísseis nucleares de Jericó. O memorando "top secret", assinado no mesmo dia da reunião entre sul-africanos e israelenses, já era conhecido, mas não se sabia o seu contexto. Ignorava-se que estava diretamente conectado com uma oferta israelense de armas atômicas em resposta direta a um pedido sul-africano, formulado no mesmo dia do encontro. Naquele memorando, Armstrong escreveu: "em consideração aos méritos de um sistema armamentista, como o que está sendo oferecido, foram feitas algumas observações: a) Que os mísseis sejam armados com ogivas nucleares fabricadas na RSA (África do Sul) ou adquiridos em outra parte".

Chris McGreal adverte no The Guardian que, naquela época, a África do Sul estava muito longe de poder construir armas atômicas. Pouco mais de dois meses depois, em 4 de junho, Peres e Botha se encontraram em Zurique. Então, o projeto Jericó teria o nome em código "Chalet". A minuta super-secreta sobre aquele encontro assinala: "O ministro Botha manifestou interesse sobre um limitado número de unidades de Chalet, conforme a carga útil correta disponível". O documento acrescenta: "O ministro Peres disse que a carga útil estava disponível em três tamanhos. O ministro Botha manifestou a sua apreciação e disse que iria se aconselhar". Presume-se que os "três tamanhos", se referem a armas convencionais, químicas e nucleares.

O uso do eufemismo "carga útil correta" reflete a sensibilidade israelense sobre o tema nuclear e não foi utilizado para referir-se a armas convencionais, escreveu McGreal. Também significaria que somente as ogivas nucleares descritas no memorando de Armstrong despertaram o interesse da África do Sul pelos mísseis de Jericó, como condição para a entrega das armas nucleares. Além disso, as ogivas nucleares eram a única "carga útil" que os sul-africanos desejavam obter de Israel, pois eram capazes de dotar os mísseis de outro tipo de armamento, indicou o diário britânico.

Botha não seguiu adiante com o tratado, em parte devido ao seu preço. Além disso, qualquer acordo requeria a aprovação final do primeiro-ministro de Israel, o que era incerto. O periódico afirma que "a África do Sul construiu eventualmente as suas próprias armas atômicas, provavelmente com a possível ajuda israelense, porém a colaboração em tecnologia militar cresceu somente durante os anos seguintes. A África do Sul também proporcionou muito urânio enriquecido que Israel necessitou para desenvolver as suas armas".

FILTRANDO O SEGREDO

Para o diário britânico, os documentos confirmariam a história do ex-comandante naval sul-africano, Dietr Gerhardt, que foi preso em 1983 por espionar para a União Soviética. Depois que houve o colapso do apartheid, Gerhardt disse que havia um acordo entre Israel e a África do Sul chamado "Chalet", que implicou uma oferta do estado judeu para armar oito mísseis de Jericó com "ogivas especiais". Gerhardt disse que eram armas atômicas, porém até hoje não se tinha documentado a oferta.

Semanas antes que Peres fizesse a sua oferta de ogivas nucleares a Botha, os dois ministros da defesa firmaram outro acordo secreto que cobria a aliança militar conhecida como "Secment". Aquele pacto era tão secreto que incluía uma negação da sua existência: "Pelo presente fica claro que concordamos que a existência deste acordo... será secreta e não será divulgada por nenhuma das partes". O acordo também estabeleceu que nenhuma das duas partes poderia denunciá-lo de forma unilateral.

The Guardian recordou que a existência do programa de armas nucleares de Israel foi revelada em 1986 por Mordechai Vanunu ao diário britânico Sunday Times. Vanunu proporcionou fotografias feitas dentro da planta nuclear de Dimona e revelou detalhes sobre o processo de produção do material nuclear, porém não incluiu documentação escrita.

Os documentos descobertos por estudantes iranianos no interior da embaixada dos Estados Unidos, em Teerão, depois da derrota do Xá Reza Pahlevi, mostraram o interesse de Israel em desenvolver armas nucleares. Porém, somente a documentação da oferta à África do Sul confirmou que Israel estava em condições de armar os mísseis de Jericó com ogivas nucleares, revelou o diário.

Israel exerceu pressão sobre o atual governo sul-africano para que não revelasse os documentos obtidos por Sasha Polakow-Suransky. "O ministério da defesa israelense tentou bloquear o meu acesso ao acordo "Secment", argumentando que era material secreto", disse o escritor citado pelo diário londrino. "Aparentemente, os sul-africanos não fizeram caso, e me entregaram o documento". O governo da ANC (Congresso Nacional Africano) não está tão preocupado em esconder a sujeira dos velhos aliados do regime do apartheid".



Fonte: argenpress.info/
(Tradução de Fausto Brignol)
www.diogenes.jex.com.br

Imagem: Google (colocadas por este blog)


Notícia lida em: http://burgos4patas.blogspot.com.br/2012/09/e-as-armas-nucleares-de-israel.html

Um comentário:

  1. É ...Deus criou o mundo e os animais humanos que só pensam em destruição mútua...

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